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Violência contra mulher aumenta na região do Alto Vale

De 2017 para 2018 houve um aumento de 19% nas ocorrências.

Violência contra mulher aumenta na região do Alto Vale Imagem Ilustrativa (Foto: Helena Marquardt/DAV)

 

A violência contra a mulher vem aumentando constantemente e somente neste ano 35 feminicídios foram registrados em Santa Catarina. Outro dado alarmante é que em relação a violência doméstica. Somente no Alto Vale, de acordo com a Polícia Militar, do início do ano até agora já foram registrados 412 casos, número bem maior que os 346 registrados nos 12 meses de 2017 e que representa um aumento de 19%.

De acordo com o Comandante do 13° Batalhão, tenente coronel Renato Abreu, na região, foram efetuadas 173 prisões em flagrante relacionadas a esse tipo de crime.

“A polícia militar está bem sensível e atenta quanto os índices de crescimento de violência contra mulher, principalmente ao viés do motivo em ela ser mulher. Esse crescimento é analisado por meio de números em todo o nosso estado”, pontuou.

A professora e conselheira tutelar, Graziela Maike Lohse, já sofreu agressões de seu ex-companheiro e destaca que para ela a principal questão é se sentir segura ao realizar a denúncia.

“Precisamos do apoio da nossa família, que geralmente já conhece esse caso, quando não tem conhecimento ela precisa ter autonomia, ou seja, manter o seu sustento sozinha, normalmente as mulheres vítimas de violência são dependentes do companheiro”, explicou.

Graziela conta que logo nas primeiras agressões físicas ela resolveu fazer a denúncia para evitar que a situação fosse se agravando.

“Com o passar do tempo à violência aumenta, chega um momento em que ou você dá um basta ou você se acostuma com aquela realidade. É importante procurar apoio da família, procurar ajuda por meio de programas, nos municípios que possuem o CRAS e o CREAS, as vítimas podem buscar esse acolhimento”, destacou.

Além do apoio familiar e social muitas vítimas acabam precisando de orientação médica e psicológica como explica Graziela. “Acaba abalando muito, após uma situação de agressão física tive que partir para a medicação, busquei apoio psicológico, e geralmente a família precisa desse apoio, principalmente quando existem filhos envolvidos. Não é apenas a mulher que sofre, mas toda a família. Esse conflito na presença dos filhos acaba causando danos, porque a criança precisa viver em um ambiente seguro e se tem agressões os filhos não se sentem seguros”, comenta.

Apesar de toda a situação que a professora enfrentou no passado, hoje ela conta que todo esse trauma foi superado porque ela buscou a sua própria independência.

“Uma situação dessas te deixa triste, então buscar a sua independência por meio de cursos, capacitações, e trabalho com certeza te deixa muito melhor. Nenhuma mulher merece apanhar, não há motivos para agressões físicas, fica uma dica para todas as mulheres buscarem ser felizes”, disse.

Com esses dados não há dúvidas que o trágico panorama requer novas e imediatas ações de prevenção e preservação de vidas. Uma das formas de combater a violência contra a mulher é um programa lançado pela Polícia Militar, Rede de Proteção as Mulheres, que vem atingindo e protegendo cada vez mais o público feminino.

“A Polícia Militar de Chapecó, por meio de fomentação de projetos de boas práticas criou um programa para combater práticas de violência por meio da lei Maria da Penha, o projeto prosperou, a Polícia Militar abraçou esse projeto piloto que aconteceu em Chapecó e tornou o projeto um programa Rede Catarina que visa através de uma parceria com o Judiciário e o Ministério Público atender de forma específica mulheres que tenham medidas protetivas de urgência emitidas pelo Judiciário”, comentou Abreu.

O programa, que iniciou em julho deste ano, já beneficiou diretamente 29 mulheres na região.

“O programa oferece o serviço de ronda preventiva, a ronda gera um relatório onde a pessoa relata se a medida protetiva está ou não sendo cumprida pelo agressor, se não estiver sendo cumprido esse relatório é enviado ao Judiciário que com base nessa informação emite outro procedimento em desfavor do agressor e em favor a vítima daquela proteção. O programa tem mostrado muita eficiência, infelizmente os dados em Santa Catarina são bastante expressivos, mas percebo também que hoje temos essa realidade porque a mulher já está mais imponderada para denunciar, e quando o caso vem à tona é obvio que isso gera números”, relata.

O comandante destacou ainda que o maior número de denúncias registradas está relacionado à configuração socioeconômica das famílias que mudou muito nos últimos anos.

“Antigamente as mulheres viviam para criar os filhos, hoje essa configuração socioeconômica mudou, a mulher participa da economia da família e por isso também se sente mais emponderada, antigamente por ela se sentir sob a situação econômica do marido ela se restringia e não denunciava pela, hoje a realidade é bem diferente e tudo isso são fatores que levaram as mulheres a não suportarem mais violência, seja ela moral, psicológica ou física”, pontua.

Karla Fernanda Bastos Miguel, que ficou a frente da Delegacia da Mulher por 24 anos atendendo aos 28 municípios da região, lembrou que infelizmente vários casos de violência no Alto Vale foram destaque inclusive na mídia nacional.

“Tivemos um caso em que o companheiro jogou a mulher em uma fornalha, outro em que a mulher rompeu a relação e o companheiro matou ela com 24 facadas, tivemos casos onde o cara matou a mulher carregou no porta mala e deixou próximo do rio, então já foram vários casos e aqueles que te deixam mais entristecidas são os que as crianças presenciam e sofrem as sequelas da perda da mãe. Tudo isso afeta todo um contexto familiar”, relata.

Karla comenta ainda que as agressões e violência se tornaram mais duras.

“Percebemos que em muitos casos não basta agredir, tem que agredir de maneira cruel. Eu percebo ainda a falta de encorajamento por parte das mulheres, a violência se inicia de forma culta em um primeiro momento, com discussões, com um rompimento, são pequenos detalhes que levam a violência doméstica”, comenta.

Em relação ao trabalho desenvolvido ao longo dos anos Karla destaca que se sente realizada por impactar positivamente na vida de tantas mulheres.

“Consegui auxiliar e transformei a vida de muitas mulheres, hoje eu tenho gratidão a Deus por conseguir ajudar tantas mulheres enfraquecidas, sem coragem em uma situação de vulnerabilidade”, finalizou.

 

Por Tatiana Hoeltgebaum

Diário do Alto Vale

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