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Sobreviventes relatam gritos de socorro e pessoas arrastadas pelas águas em Presidente Getúlio

“Olhei pela janela e vi a casa caindo”, conta vizinha que testemunhou a tragédia no bairro Revólver.

Sobreviventes relatam gritos de socorro e pessoas arrastadas pelas águas em Presidente Getúlio Cenário de guerra no bairro Revólver, em Presidente Getúlio (Foto: Patrick Rodrigues)

 

Moradores de Presidente Getúlio ainda tentam entender tudo o que viram na tragédia que atingiu a cidade na madrugada desta quinta-feira (17). A forte chuva e os deslizamentos nos morros da região se tornaram uma verdadeira avalanche de lama, pedras e vegetação, que arrastou tudo o que encontrou pelo caminho.

Casas foram destruídas e famílias inteiras morreram.

Adriana Weemes, 27, viu o momento em que a enxurrada arrancou a residência vizinha. A moradora que estava dentro, aguardando o marido chegar do trabalho, gritou por socorro, pediu ajuda, mas a água já havia invadido todos os imóveis da Rua Getúlio Vargas, no bairro Revólver.

Ela nada pôde fazer.

— Ouvi o grito dela [da vizinha]. Olhei pela janela e vi a casa indo. Não tinha o que fazer. Meu marido e eu corremos com os dois cachorros no colo e subimos nesse vizinho. Corri no meio da água, estou com as pernas arranhadas — mostra Adriana, aliviada por estar viva.

Outras pessoas também tentaram o mesmo que Adriana e o marido, mas acabaram levadas pelas águas. 

No bairro em que mora, o mais afetado pelo fenômeno climático, ao menos nove pessoas morreram, conforme informações atualizadas pela Defesa Civil no começo da noite desta quinta-feira (17).

A casa da sobrevivente inundou, mas permaneceu em pé, diferente de ao menos cinco residências próximas à dela. 

A Defesa Civil ainda não contabilizou todas que foram completamente destruídas. Sabe-se apenas que a situação mais grave foi na rua de Adriana, que fica mais perto dos morros que formam o vale de Presidente Getúlio.

 

Adriana ouviu os gritos de vizinhos.

Adriana ouviu os gritos de vizinhos - Foto: Bianca Bertoli

 

Nesta tarde, ela recolheu algumas roupas e, em sacolas, levou o que pôde para a casa do vizinho, que fica em um terreno mais alto. Outras pessoas fizeram o mesmo. Durante o dia, o vaivém de moradores em busca do pouco que restou movimentou a Rua Getúlio Vargas.

“Daqui de cima eu ouvia os gritos”

Outras vias dos bairros Centro e Rio Ferro também registraram ocorrências, mas não houve mortos. Lúcia Sardagna, 57, mora no Centro e precisou subir ao sótão com o filho adolescente e o marido para escapar da inundação que passou de um metro. Desesperada, tirou as telhas para olhar o lado de fora e tentar entender o que acontecia.

— Era meia-noite mais ou menos. A gente já teve enchente, mas nunca encheu tão rápido quanto nessa noite. Ouvi um barulho, olhei pela porta e a água já estava ali. Aqui em cima [no sótão] ouvi os gritos das pessoas. Parecia que elas estavam indo com a água. Foi um desespero sem fim. Nunca vi isso na minha vida — lembra a moradora.

 

Dona Lúcia ainda contabiliza os estragos da enxurrada.

Dona Lúcia ainda contabiliza os estragos da enxurrada - Foto: Bianca Bertoli

 

Do lado de fora, as enormes palmeiras serviram de barreira para os escombros que as águas arrastaram. Mesmo assim, todo o quintal de Lúcia foi destruído. Cerca, galinheiro, muro e um rancho sumiram sob a lama. Com a ajuda dos filhos, tentou tirar parte do barro que acumulou dentro e ao redor da casa já durante a quinta-feira.

— Não sobrou nada, vou ter que jogar tudo fora. São coisas de uma vida inteira. Ao menos estamos vivos — conclui ao lembrar dos gritos que ouviu durante a noite.

 

Por Bianca Bertoli

Santa / NSC Total

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